Iluminação
O viajante cansado fita o rio imenso que
se estende no horizonte. Parece estender-lhe
os braços convidativos.
Num ínterim de iluminação suspira
fundo, um cansaço sofrido e doloroso
trazendo em si toda uma vida de batalhas,
cicatrizes e sofrimentos.
Num ínterim de iluminação, antes do cansaço
lhe tomar a alma, reflete sobre a paz
interior que vem sentindo. Abraça
com alegria a solidão da viagem
e despreza o sentimento de ingratidão e
desencontro.
Num ínterim de iluminação, busca a
grama banhada pelo Sol do fim de tarde,
aquecida pela vida que explode do astro
que acaricia de amarelo o verde reluzente.
Sente cheiros que por décadas não sentia invadindo
suas narinas e trazendo lembranças da infância.
Ouve coisas que antes não ouvia, lembra dos
amores que viveu e desiste, enfim, daqueles
que nunca teve coragem de buscar.
Nesse ínterim de iluminação, o viajante
deita na grama quente, sente as carícias de
seus pequenos braços, vira criança acolhida no
colo materno, suspirando de gratidão
pelo aconchego.
Nesse ínterim de iluminação, com lágrimas
escorrendo frouxas pela face,
o viajante fecha os olhos,
para sempre.
Fábio Malko
Enviado por Fábio Malko em 04/06/2015
Alterado em 04/06/2015